jueves, 21 de enero de 2010

Ode à água


Como água
corre sem forma
deixa o relevo a transformar
se expande se contrai
reflete o que há fora
-matéria vibrante a rodeia -
reflete os olhos tranqüilos
que veem a si mesmos,
reflete os olhos múltiplos
de quem não pôde conter-se.

Água de várias cores fugidias,
com tantos matizes de palavras
e infinitos gostos imperceptíveis,
modificada pelo tempo-espaço-
pensamento.

vibrante água inexpressiva
forma vida.

Objetos

Palavras soltas,
sem tempo, sem espaço
Na atmosfera

objetos flutuantes
parados em sua maneira

Porta de armário aberta
O vazio dentro do quarto
Corredor antigo
Verde
Espelhado

Um buraco no meio do reflexo
Único lugar não refletido
Espaço
sem ser vivente

Semente voa
branca e magnética
Sem tocar matéria
Seu caminho no ar,
previsível,
indecifrável
Levada por vento

O sopro
tentativa de mudança
de toque
velocidade

No chão
corpo estirado
atrai os objetos para si
se colam
se vão

Corpo desnudo
instante paralizado

Esfera
movente
elétrica

domingo, 10 de enero de 2010

Meditação


Dentro desse espelho quebrado que é minha alma,
que reflete em pedaços as partes que me compõem
um dos fragmentos que observo refletido
é esse que me torno e vivo
mas me torno com verdade,
sabendo que além disso tudo
o drama pode ser nulo

Como uma linha ou um rabisco feitos em um papel,
que por opção preenchemos com o que nossa mão pode desenhar
vivo o meu drama
mesmo sabendo que estou representando,
porque poderia ser outro,
todo personagem dentro de mim tem sua verdade
nenhuma delas absoluta

não quero julgar os desenhos que faço
quero apenas na hora em que estiver desenhando
acreditar no traço
dentro do respirar infinito e fundo

um instante me desfaço de todas as perspectivas
o papel volta a ser branco
e nesse novo silêncio, canto
e tento recomeçar a vida